“O povo de São Luís é um povo forte e batalhador. Devagarzinho nós vamos reconstruir tudo que a chuva levou, pedra sobre pedra!”, afirmou o aposentado João de Souza, olhando emocionado para a Capela das Mercês, completamente restaurada. Depois da grande enchente que inundou completamente São Luís do Paraitinga, em janeiro de 2010, os moradores presenciaram um momento importante no último domingo (25). A festa de inauguração da Capela das Mercês contou com a presença de centenas de moradores, mas o grande fuzuê mesmo veio da quantidade enorme de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que, inclusive, atrapalharam bastante a população que tentou escutar o pronunciamento de Dona Didi, moradora responsável por organizar a Festa do Divino Espírito Santo há quase 60 anos, grande defensora do patrimônio cultural da cidade. Ela esteve ao lado das autoridades que presidiram a cerimônia, como o bispo Dom Carmo; a prefeita Ana Lúcia Bilard, o presidente do Iphan Luiz Fernando de Almeida, e a Ministra da Cultura Ana de Hollanda.
O dia de comemoração trouxe aos olhos dos visitantes o sincretismo cultural da cidade que, habitualmente, se faz presente nas festividades desse povo. A procissão religiosa, os tambores do maracatu, a dança de fitas, as violas caipiras, tudo dividia o mesmo espaço da rua. Famílias, crianças, artistas e fiéis acompanharam – mesmo que do lado de fora – o ato simbólico: o corte da fita vermelha e a reabertura oficial da igreja. A ação marcou mais uma vitória do povo Luisiense. Porém, ainda falta.
Quem conheceu a cidade antes do incidente sabe o quanto ainda há a ser feito, embora reconheça o quanto já foi edificado. O brilho de tinta fresca nos casarões antigos contrasta com algumas ruínas que ainda evidenciam os rastros da enchente. A igreja matriz, por exemplo, não existe mais. Ruiu por inteiro. O sino e alguns santos foram resgatados e fincados no meio dos escombros. E todos os dias ele toca várias vezes ao dia, como se a igreja ainda estivesse ali. Mas vão reerguer com o mesmo empenho que tiveram em salvar todos os seus moradores. Apesar de a cidade ter submergido quase por completo, não morreu uma só pessoa em São Luís. A Capela das Mercês, que tem quase 200 anos, foi só o começo desse resgate histórico e cultural de São Luís do Paraitinga.
"Depois que a água baixou, a cidade fedia e o cenário era de guerra”, relembrou o professor Paulo Afonso Teixeira que, anualmente, leva os alunos de São Paulo à São Luís para conhecer um pouco da cultura caipira. “É muito bom ver a cidade se reconstruir com a participação do povo, com tanta força, amor e dedicação,” afirmou. Os depoimentos são fortes. Dona Didi falou em nome de todos os 10 mil habitantes de São Luís. “Isto é só o começo!”.
Fotos: Diogo Arakilian