sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A menina e a jangada



Ao olhar para a costa de dentro do mar, a paisagem regada pelo denso coqueiral e falésias coloridas não se distingue para a menina da capital. Ela bem que tentou aprender, apurando seu senso de localização com as visitas freqüentes à Praia, ao longo dos anos 90. Mas a bordo de uma jangada, tanto tempo depois, só lhe restava a humilde tarefa de ouvir as histórias sábias do seu amigo de infância, um pescador local.

–  Está vendo aquele morro? –  apontou ele em direção a costa.
– Sim! – Respondeu a menina sem muita segurança.
–  É o Morro do Urubu. Perceba que ele tem um formato diferente dos outros. Quando estamos no mar, voltando para casa de dia, ele é a referência. É por ele que sabermos exatamente onde devemos chegar com a jangada. Se for a noite, a referência são as estrelas.
– Humrrum! – respondeu.

A menina balançou a cabeça concordando, mas com um semblante atônito.Era como se os anos longe daquele vilarejo e as cargas urbanas recebidas junto as responsabilidades da vida de concreto tivessem-lhe roubado a capacidade de naturalizar aquela realidade e sentir o seu amigo de perto. Um grande silêncio pairou. A menina, de pernas cruzadas na proa da jangada, não tirava os olhos da costa. Somente o som do vento na vela entoava, assim como se escutava o fundo da jangada batendo na água, a cada nova onda que passava.   

Já na direção certa, completamente perpendicular a linha do horizonte, uma onda embalou a jangada.
 

Uhuu....... Se segura que essa onda é nossa! disse o pescador anunciando o final do passeio, com um pouco mais de emoção.

A menina titubeou, mas agarrou-se às cordas da âncora que estavam ao alcance e deixou escapar um sorriso de satisfação. Ela não lembrava que pegar onda na jangada era a parte mais divertida do passeio que fazia todas as férias. Ele fez questão de lembrá-la, retirando a menina do estado estupefato que havia lhe tomado o corpo desde o início do passeio. Não era tensão, nem medo. Talvez um deslumbramento, um estado absorto de contemplação. Ela esgueirou-se sobre a jangada e fingiu pilotar a embarcação. Ali a adrenalina correu fina no sangue e lubrificou os sentidos da menina.
 

Aportaram à praia de Majorlândia da mesma maneira como em tantas férias. Eles eram exatamente os mesmos de 15 anos atrás.

*Este conto é uma homenagem a todas as amizades construídas nos litorais, a sabedoria caiçara, aos ensinamentos de moradores de comunidades aos arrogantes das capitais.





Majorlândia está localizada ao lado da Praia de Canoa Quebrada (4km pela praia) e pertence ao município de Aracati (150km de Fortaleza). A praia tem bastante infra-estrutura de hospedagem, lazer e alimentação. É possível fazer passeios de jangada, subir no Morro do Urubu para apreciar um pôr-do-sol inesquecível, além de visitar as esculturas gigantes nas falésias de Toinho de Carneiro. A oferta de frutos do mar frescos é sempre grande. Come-se pratos excelentes como Peixe Frito, Camarão no Alho e Óleo e Muqueca de Arraia na Barraca do Lauro ou no restaurante Gilberto. Desfrutar da tranqüilidade de Majorlândia só é aconselhável em períodos de calmaria. Recomenda-se ir fora de feriados como carnaval e réveillon, datas que o local fica bem barulhento e conturbado por visitantes das cidades mais próximas. O palco no Calçadão principal tira o sossego do local com bandas de forró e axé desagradáveis. Fuja das atribuladas datas comemorativas e desfrute!             

 
                                                                                                                                                          

PS: Procure um local que irá recebê-lo bem em Majorlândia. Deixo a dica: Tampinha, filho do Lauro da barraca. Peixe fresco, passeios de jangada, dicas de caminhadas. Contato: 88- 99511614.









4 comentários:

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  2. Caramba Raquel, não conhecia esse teu Diário de Viagem! Muito bom mesmo! Quanto a este post, não tem como não passar toda a cena em nossa mente ao lê-lo! Realmente a dica é ótima e não precisei chegar ao fim para saber quem era o referido nativo! Ótimos momentos passamos em Majorlândia e muitos outros ainda passaremos! Beijos!

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  3. eu li e fiquei com vontade de ler mais histórias da menina e a jangada...nestes verdes mares e cearenses e estas falésias já se passaram mtas historias entre familias amigos e turistas. mtas sensações podem ser as mesmas de 15 anos atrás, o encanto do lugar permance, ao menos pra a menina da história...

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  4. Raquel, isso foi quase uma poesia!

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