Victória Road
Exportando arte de periferia
Com o rosto escondido num chapéu de pano para se proteger do sol, Zodwa concentra-se no oficio diário de decorar as Tongas Basckets e atender aos turistas que chegam constantemente. Somente Zodwa, sem sobrenome. Lábios carnudos e sorriso marcante. A fala é mansa e pausada, típica de quem não tem o inglês como idioma oficial e teve que aprender para trabalhar. Aos 34 anos está ali na feira todos os dias, representando sua comunidade, Khayelitsha(2). Sua língua é o Xhosa(3). Domina também Zulu. Traz trabalhos de primos, irmãos e vizinhos para a gringalhada ver e comprar. Pele de bicho não. Sabe que para fazer estas peças – refere-se a mercadoria dos colegas – não se aproveita a pele de animais que morrem. Sabe bem que é preciso matá-los. Seu talento é outro. A menina mexe nas Tongas feitas pela mãe. Os cestos de palha de bambu já vêm pronto do estado vizinho, Eastern Cape. Tem de todo tamanho. A aprendiz orna os objetos com miçangas coloridas, como a mãe lhe ensinou.Enquanto descreve o bairro e o lugar onde mora, Zodwa me puxa pela mão e me leva até a lona onde estão expostos os trabalhos de seu irmão mais novo. “Olhe! Assim são nossas casas, assim é nosso bairro. São chamadas de sharcks. Estou esperando uma casa do governo. Uma casa mesmo, de concreto. Acho que a gente da seção B deve receber as casas só em 2011. Quem sabe até o final do ano. Não sei, estou esperando.” Em Khayelitsha vivem aproximadamente 2 milhões de pessoas. A maioria das casas são feitas de madeira e até mesmo de papelão.

Entre um norueguês e um britânico que chega interessado nos trabalhos de Zodwa, ela me diz de seus medos com toda a calma do mundo. “Nas horas livre eu gosto mais de ficar em casa assistindo filme. Eu tenho um DVD, fico conversando com minha irmã, é mais seguro. Em Cape Town se você está na rua de noite e um homem desconhecido pede o seu telefone, você tem que dar, porque você não sabe o que ele pode fazer com você. E algumas vezes eles não são tão educados assim...”.

Zodwa trabalha sobre as Tongas Basckets feitas de palha de bambu
Buraco da fechadura
1 – Victoria Road é uma das estradas mais bonitas de Cape Town. Ela margeia o oceano Atlântico passando pelas praias mais ricas da região e pela famosa montanha dos 12 apóstolos. A estrada dá acesso ao caminho que leva até o Cabo da Boa Esperança. A feira se localiza logo depois de Camps Bay, entre as praias de Bakoven e Llandudno.
2 – Khayelitsha está para Cape Town assim como Soweto para Johannesburg. Aproximadamente 90% da população é negra. O restante é mestiça. Zodwa disse que no bairro dela tem cabeleireiras boas no trançado. Disse que me levaria por lá, durante o dia, é claro.
3 – Xhosa é uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Aproximadamente 8 milhões de pessoas falam o idioma. É a mais fácil de reconhecer quando os nativos estão falando porque eles estalam a língua no céu da boca, fazendo um barulho engraçado. Nas topics é a língua que mais se escuta entre os motoristas e os trocadores. Inclusive, vale algumas linhas sobre o transporte público aqui de Cape Town. É bastante deficiente. A maioria das topics e o trem só funcionam até o começo da noite, tipo 20 horas. Para o bairro onde moro, Walmer Estate por exemplo, a última sai às 18h30. E não é distante, é apenas um bairro residencial que não fica no centro, nem nas praias ricas. Taxi não é muito caro, mas você acaba escravo deles.

Família vende roupas de crochê há dois anos na Feira


Adorei as matérias. Conhecer a Africa dos sul pelos seus olhos e repleto de detalhes e informações preciosas está sendo uma maravilha! Que venha mais!
ResponderExcluirMuito boa a perspectiva que tem sobre as coisas observa.. Continuo acompanhando.
ResponderExcluirluminosa trajetória mia linda!
ResponderExcluircomo gostaria de sair por aí também agora!
mas, estarei acompanhando-a!
beijaefetuosoabraço!