Cape Town é uma cidade que respeita o descanso. Quando é hora de fechar as portas, elas fecham. Talvez pelo hábito ainda do toque de recolher que existia no Apartheid, o comércio encerra o expediente às 17 horas. Durante a madrugada, é raro o bar que excede às 2 horas da manhã. A cidade tem uma organização peculiar. Às vezes me parece um tanto quanto caótica, mas segue alguma lógica comum apenas entre os locais. Para turista, um mês de adaptação é pouco para entender o funcionamento da cidade. É o bondinho da Table Mountain que tem promoção na sexta feira para estudante, mas eventualmente não funciona por causa do vento forte. Ou mesmo aquela depois das 18 horas: ticket pela metade do preço, mas não está escrito em lugar nenhum e você só descobre casualmente depois que já comprou os dois trechos do Cable Car(1) pelo dobro do preço. Garçom por aqui sabe fazer conta melhor do que muito matemático. Quando solicitado, ajuda com competência qualquer jornalista a dividir a conta. Se der na cuca do manager, hoje simplesmente não funciona. Resolveu viajar com a família e deu folga aos funcionários.Taxista é um negócio curioso. Não conhecem bem a cidade. É comum eles se perderem. Ande sempre com um mapa e, se possível, explique o caminho do seu destino. Cada empresa tem sua tabela. O mesmo trecho pode variar em até ZAR 70 (2). Enquanto você não conhece o trecho, deixe o taxímetro rolar para se ter base de negociação da próxima vez. Aliás, certifique-se que a empresa que você escolheu utiliza taxímetro porque algumas têm uma tabela aí muito doida com uma base de cálculo estratosférica com logarítimo e raiz quadrada não sei da onde. Se cair nessa, é melhor não tentar entender, pague.
É comum ver um gringo desavisado, apreciador de cerveja, tendo problemas com a polícia. Aqui é proibido o consumo de bebida alcoólica na rua. Nos supermercados, somente os bons vinhos africanos (booooons mesmo). O agito da cidade é comedido, mas há. Não conheço ninguém que leve daqui desgosto. Aos brasileiros (ou mesmo os italianos) mais ávidos por uma vida urbana ativa, sugiro exercitar a paciência. Um pôr do sol na praia de Clifton pode ser suficiente para se entender o ritmo da cidade. Pode ser do Lions Head também, depois da escalada não muito suada até o topo da montanha. Do lado de cá do Oceano Atlântico, se pode ver o mar apagar o sol todos os dias, somente às 20 horas da noite. Não é raro golfinhos e focas embelezarem o final de tarde.
A fuleragem é bem parecida
A língua inglesa aqui está bem distante daquela coisa fria de britânico, embora tenha sido eles a colonizarem estas terras depois de brigarem bastante com os holandeses. Dizer que é brasileiro soa bem por aqui. Sinto uma certa identificação entre os povos. Acho que dividimos algumas coisas como a violência, a pobreza, o bom humor das pessoas, a receptividade, a alegria. A fuleragem (como se diz no meu Ceará). A fuleragem é bem parecida. O povo aqui fala alto que nem a gente, ri do tombo alheio e convida pra tomar um café em casa no dia seguinte que o encontrou.