domingo, 7 de agosto de 2011

Guia Por Onde Andei – Loma Bonita


Cascadas Las Nubes: Na real mesmo eu fiquei no povoado de Las Nubes, mas não valeu a pena. Para chegar aí, não faltam informações e indicações na pista. Mas o ouro mesmo está em Loma Bonita. Depois que você já está diante da queda principal no centro ecoturístico de Las Nubes, você cruza a cachoeira pela ponte e faz a trilha de 25 minutos que inicia a esquerda, descendo o rio. Pela estrada principal que contorna a selva lancadona - que sai de Comitán Dominguez e vai até Palenque, pede-se para descer no município de Maravilla Tenejapa. Daí pega-se uma condução até Loma Bonita. Se preferir, peça para o motorista da primeira condução lhe deixar no próprio cruzamento que sai da estrada principal e segue direto para Loma Bonita, você tomará a mesma condução vinda de Maravilla Tenejapa, só que esperará na estrada.

A cachoeira é conhecida como Las Nubes, mas o povoado que sabe acolher mesmo fica um pouquinho mais em baixo. Conheci Loma Bonita totalmente por acaso. Como em Las Nubes (onde estávamos acampados, porque as cabanas eram caríssimas) todo o vilarejo é testemunha de Jeová e não se pode vender cerveja nem cigarros. Eu, Maíra e Nuno fomos buscar umas chelas (1) nos arredores e nos deparamos com a incrível Loma Bonita. O povoado está também aos pés do mesmo rio de Las Nubes, só que mais em baixo. Formam-se praias incríveis, com pouca correnteza e com vista para outras quedas impressionantes.

Percebe-se claramente que os dois povoados não se dão bem. Em Las Nubes todos dizem que não existe mais nada depois da ponte (2), colocam inclusive cartazes no início da trilha dizendo ‘Não Passe!’. Quando chegamos em Loma Bonita, o depoimento de Aron e Rosier Morales nos fizeram entender melhor a situação. Faz 10 anos que a cooperativa de Las Nubes tem o mesmo presidente e o centro ecoturístico não é nada justo com os preços, nem possui serviços de qualidade. Ou seja, caro e ruim – apesar da beleza natural arrepiar o juízo de qualquer um. Mas em Loma Bonita não está diferente em beleza natural, afinal, é o mesmo lugar, só que um pouco mais abaixo do rio e possui pessoas muito mais buena onda. As cabanas de Rosier e Aron estarão prontas no final do ano, em dezembro. Situadas a 100 metros das praias de rio e a 10 minutos de trilha de lugares exuberantes para ver o túnel natural que a queda de Las Nubes passa antes de chegar nas praias, todas elas terão cozinhas e estarão disponíveis a preços justos. Ele nos recebeu com energia muita boa. Disseram que ali se podia beber cerveja sem problemas e provaram com simpatia, a receptividade do povo de Loma Bonita.


Tão longe de Deus e tão perto dos EUA

Por aqui não é raro conversar com alguém que já foi nas terras gringas para trabalhar e voltar para casa com um dinheiro a mais no bolso. Em uma prosa descompromissada Aron e Rosier, primos que agora puxam o empreendimento de Loma Bonita, nos contou de suas experiências. Tudo aquilo que sempre vi em filmes, aqui é comum. Sempre tem um agricultor, taxista, garçom que já cruzou o deserto de Chihuahua. Os primos ficaram por lá 3 anos. Mas agora só querem saber de Loma Bonita. Não se arrependem, juntaram dinheiro e agora querem fazer da vila mais um lugar interessante para visitantes e turistas. O percurso de Aron foi um pouco mais longo que o de Rosier. Um, tardou 6 dias; o outro 2 dias e uma noite. O investimento é grande. Aron pagou U$ 1.800 a um coitote (3) do estado de Sonora para levá-lo até o ponto estratégico de onde se inicia as caminhadas – leia-se fuga. São 5 litros de água por pessoa, alguns aromatizantes de suco em pó e muita coragem. “Eu tive sorte, o coiote que me levou não me assaltou, não fez nada. Tenho amigos que sofreram muito antes de começar a cruzar o deserto”. Caminham de noite e se escondem de dia em buracos feitos pelos próprios imigrantes no meio do deserto para se esconderem dos militares americanos. Depois que acaba a água, a estratégia é seguir o gado e tomar a água que eles encontram. “Geralmente é pouca e bastante suja, mas colocamos o pó aromatizante e dá para beber.” Sem muito medo, Aron falou sobre as caveiras e os ossos que encontrou no meio do caminho. “São ossos humanos daqueles que por ali passaram e morreram de fome, de sede, ou mesmo envenenado. Tem muitas cobras no deserto. É muito perigoso. Se você for picado por uma, não tem como sobreviver.” Mas Aron conseguiu chegar do outro lado, na terra prometida, e por lá ficou 3 anos. Foi encontrar o primo que já trabalhava lá como motorista e se virou bem. Juntou dinheiro e voltou para Loma Bonita. Agora só quer saber de terminar as cabanas na beira da praia de rio.

Buraco da Fechadura

(1) Chelas são nossas cervas. Depois de muitas, a noite fica um desmadre!

(2) Do outro lado da ponte, onde a comunidade de Las Nubes já não deveria mais apitar, encontrei uma senhora que vendia frutas, trazidas de outro povoado mais acima do rio. “Eles não gostam quando a gente vem vender frutas aqui. Mas a gente sabe que os turistas gostam e aqui já faz parte da área do meu povoado.” Foi ela inclusive que nos indicou Loma Bonita para comprar cerveja e cigarros. Ela estava apreensiva porque seu filho tinha ido acompanhar uns turistas pela mata e a angústia das mães ali na selva é grande quando se fala em gringos americanos por perto. Mais uma cena de filme. É comum o desaparecimento de crianças na região raptadas por gringos americanos que as levam para o tráfico de órgãos. “Semana passada desapareceu uma criança, foram pegar o gringo lá na frente, já na estrada, fugindo com o menino.”

(3) Os coiotes são mexicanos geralmente ligados ao narcotráfico que controlam o trânsito de imigrantes. Às vezes ajudam, às vezes exploram, às vezes se aproveitam de mulheres, às vezes muitas coisas...

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