sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Guia Por Onde Andei - Tziscao


Lagos Montebello: O parque é composto por 59 lagos completamente preservados, limpos e deslumbrantes, administrados pelos moradores da região que já tiveram que brigar com muitos gringos para que as terras dos arredores não fossem vendidas para os pinches (1)estrangeiros. Livre de resorts e do assédio turístico agressivo, a região é preciosa e vale ser explorada de uma maneira mais intensa. As agencias tradicionais de turismo só oferecem o tour saindo de San Cristóbal, em um passeio de um turno, passando rapidamente por somente 5 lagos. A dica é livrar-se das agências e fazer sua própria rota, ficando nas cabanas que os vilarejos oferecem, fazendo passeios com os próprios moradores que tem caminhonetes e te dão um serviço exclusivo, visitando os lagos que desejar. E, acreditem, sai bem mais em conta que pagar a agência e fazer tudo correndo, sem poder nem nadar nas piscinas naturais. A parada certa é Tziscao, vilarejo dentro do parque, que também dá nome a um dos lagos, na fronteira com a Guatemala. Vá de San Cristóbal à Comitan e pegue uma topic para a região dos Lagos de Montebello. Peça para descer na vila de Tziscao. No meio do caminho, vale um desvio de 9km para a ruína de Tenam Puente.

Quem nos recebeu foi Hector Morales Spinoza. O vilarejo tem aproximadamente 15 moradores que alugam cabanas. A de Hector fica na rua principal, cerca de 600m do lago Tzicao, 1km do Lago Internacional e 1,5 do Lago Chuj Kuichayil (pescado negro). Sem dúvida, foi um dos melhores lugares da viagem até agora. Ficamos 3 noites e 4 dias na região. A família de Hector nos recebeu com muito carinho, cedeu a cozinha para prepararmos nossa própria comida e dividiu um pouco do cotidiano deles conosco. O quarto para 3 pessoas com banheiro privado nos saiu a 400 pesos (dividam por 7 e vejam quanto sai em real), mas na última noite pedimos um desconto e ele fez a 300, 100 pesos por pessoa. Ele tem uma caminhonete e dois filhos. A esposa vende artesanato. Também por 400 pesos, ele nos proporcionou um dia incrível, passando por vários lagos e uma visita guiada à ruína de Chinkultik. Um de seus filhos, Aran (2), nos acompanhou nessa jornada e em outros passeios também, fazendo crescer nossa empatia pelo lugar e pela receptividade da família.

Sem falar nas histórias de quem nasceu, cresceu e viveu ali. Hector é um contator de estórias. Numa noite qualquer, enquanto conversávamos depois do jantar, nos contou sobre incidentes que ocorreram no vilarejo logo depois da insurgência zapatista, de 1994. Disse que "andavam em bandos, dizendo que vinham em nome do comandante Marcos, saqueavam nossas casas, tiravam nossas comidas, nossa colheita, tudo em nome da revolução. Mas não demorou muito para a gente entender que eram puros ladrões. Não estavam em nome do comandante Marcos coisa nenhuma. Ladrões que se utilizaram da revolução para se aproveitarem". Segundo ele, hoje a situação já está bem tranquila. Tanto no vilarejo, quanto nos arredores. "Depois de 94, se conseguiu muita coisa para os povos indígenas que viviam em situação dificil. Tem povoados aí que não tem nem estrada para chegar lá, era bem complicada a situação, mas Marcos conseguiu muita coisa. Foi construído um hospital indígena recentemente, perto de Las Nubes."

SERVIÇO: Cabañas del Centro Tziscao. Hector Morales Espinoza. Contato:+52 963 56 5 13 95


Buraco da Fechadura

(1) Pinche é uma expressão bem dificil de traduzir. Em geral é um xingamento, principalmente se vem acompanhada de pendejo na sequência. Ainda que pendejo possa ser usado como um cumprimento entre amigos íntimos. Enfim, acho que vou parar de tentar explicar estas expressões. Estão me saindo muito 'meia boca'.

(2) Como já disse antes, no México as crianças dominam o pedaço. Estão por toda parte. Em Tziscao tem alguns poetas mirins. Aran recitou um quando fomos nadar no lago que seu pai lhe levava para pescar. Ele e seus colegas adoram poesia.

Atrás de mi casa,

pasa sangre de conejo,

donde pasa mi novia,

no pasa ningún pendejo!

Tinha aprendido com o irmão. Outro dia no mercadinho, um pequenino também me parou, perguntou o meu nome e recitou um poema com Raquel. Muito amáveis são as crianças de Tziscao. Nosso contato com a comunidade foi tão bacana que me motivei a dar uma aula de capoeira para a molecada. A primeira da minha vida, vale ressaltar, mas foi incrivelmente gratificante e envolvente.

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