sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Rei Pakal ainda vive




Palenque é um mundo mágico. Ainda que se passe pouco tempo por lá, é muito improvável sair como se chegou. Em três dias encontrei a reencarnação de Pakal, um curandeiro de 9 anos (1) e um sítio arqueológico incrível, que ainda sussurra baixinho vozes e histórias de uma civilização que durante três anos teve uma mulher como rainha, a Senhora Quetzal Blanco, antes de passar o trono para o filho, o famoso Pakal. Graças ao grande número de hieróglifos encontrados nas escavações arqueológicas de Palenque, iniciadas em 1773, é que se sabe tanto desta civilização maia que teve seu apogeu entre 600 e 800 d.c, onde viveram em torno de 50 mil pessoas. O Templo das Inscrições é a pirâmide mais importante da cidade, além da mais alta, tendo sido nela encontrada a tumba do rei Pakal. O corpo de Pakal esteve intacto por um milênio, quando então foi descoberto em 1952, por arqueólogos mexicanos. Infelizmente a tumba é fechada para visitação – também não sei se teria estômago para vê-la de tão perto – mas a reconstituição que foi feita para o Museu Nacional de Antropologia, situado no Distrito Federal, está impressionante. Encontraram o corpo de Pakal coberto com um mineral vermelho, tóxico, chamado Cinábrio, adornado com inúmeros objetos de jade. O sarcófago estava cheio de pedras preciosas. A máscara que cobria o crânio continha mais de 200 pedras de jades polidas e perfeitamente encaixadas na forma do rosto do governante. Nas mãos e braços, portava anéis e braceletes de jade, todos ainda incrivelmente conservados. A cor verde da pedra simboliza sua relação com a colheita do milho, o produto mais importante para as civilizações maias.

E no meio de todas estas minhas descobertas da misteriosa Palenque, encontro um cidadão de nome Pakal. Quando se apresentou, dei uma risada e lhe perguntei se era nome ou apelido místico. Então ele começou sua história. Disse que sua bisavó era bruxa e morava na região das ruínas de Palenque quando os primeiros arqueólogos chegaram e evacuaram a área para iniciar os estudos. Então, desalojada, teve os filhos ainda no México. Mas por difundir histórias e conhecimentos que às vezes não condiziam com as pesquisas oficiais da região, teve que fugir para os EUA. Ele nasceu na Califórnia e recebeu a alcunha de Pakal em homenagem a grande figura de Palenque. Segundo seus pais, ele seria a própria reencarnação do governante. Mas logo a família se mudou para o Senegal. De lá morou na Etiópia também. Acabou voltando para o México. Estudou arqueologia na UNAM. Dizia que estava ali pesquisando. “Sempre que entro no Templo das Inscrições e me ajoelho diante da tumba do rei choro descontroladamente. É algo maior que eu”. No final da conversa, me propôs um passeio. Queria me levar para conhecer a árvore que o rei descansava. Disse que era uma trilha de 40 minutos, mas que eu sentiria uma energia única. Ele mais me parecia um maluco de estrada, mas também não duvidei. Acabei não aceitando o convite. O arrependimento bateu forte depois.


Buraco da Fechadura

(1) Juanito tem 9 anos e apareceu cheio de energia no meio do café da manhã para nos ensinar tudo de medicina natural que tinha aprendido com seu falecido avô. Começou a falar e a mostrar folhas, sementes e frutos, todos curativos de alguma enfermidade humana. Não sossegou até levar uma bronca da mãe dizendo para ele ir estudar história e deixar os turistas tomar café em paz. Dissemos a senhora que nos preparava o café que ele não estava atrapalhando e ele ainda ficou mais uns minutos falando de seus conhecimentos naturais. Ao final, minha amiga Maíra muito impressionada com as propriedades de uma determinada planta lá que, segundo Juanito, curava diabetes e até câncer, exclamou: “Puxa, mas essa planta é milagrosa!” Ele respondeu ligeiro: “Milagrosa não, ela é curativa.” E saiu com seu livro de História do México com as imagens de Pancho Vila e Emiliano Zapata na capa, obedecendo a ordem de sua mãe. “Esse aí para aprender as coisas que não estão no livro é rapidinho, mas as coisas da escola é um problema!”

(2) Em Palenque se come e dorme bem e barato. Fiquei num quarto privado com banheiro compartido e paguei somente $100. Indico a região El Panchán para ficar, bem na entrada da zona arqueológica de Palenque. Cabanas Jungle Palace. Dentro desse reduto de maluco tem várias cabanas com bons preços e alguns restaurantes para servir a comunidade de viajantes cult-bacaninhas que se amontoaram na região. O restaurante Don Mucho é o lugar certo para o rango. Serviço de qualidade, comida boa e preços baratíssimos, além de uma variedade enorme no cardápio. A noite tem shows e apresentações de malabaris no local.

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